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8 de dez. de 2011

Caio Fernando Abreu

“Vai menina, fecha os olhos. Solta os cabelos. Joga a vida. Como quem não tem o ...que perder. Como quem não aposta. Como quem brinca somente. Vai, esquece do mundo. Molha os pés na poça. Mergulha no que te dá vontade. Que a vida não espera por você. Abraça o que te faz sorrir. Sonha que é de graça. Não espere. Promessas vão e vem. Planos, se desfazem. Regras, você as dita. Palavras, o vento leva. Distância, só existe pra quem quer. Sonhos se realizam, ou não. Os olhos se fecham um dia, pra sempre. E o que importa você sabe, menina é o quão isso te faz sorrir. E só.”

Caio F. Abreu

23 de set. de 2011

Caio Fernando Abreu

"Ela é estranha. Tem olhos hipnóticos. E a gente sente que ela não espera mais nada de nada nem de ninguém, que está absolutamente sozinha e numa altura tal que ninguém jamais conseguiria alcançá-la. "

Caio Fernando Abreu

DENISON MENDES


E o médico perguntou:
— O que sentes?
— Sinto lonjuras, doutor.
Sofro de distâncias.


DENISON MENDES, in: bonsais atômicos
página 37.

16 de ago. de 2011

"Não, os jardins não morrem no inverno,
apenas sofrem um pouco mais fundo do
que de costume. Coisas assim, eu penso e
aprendo olhando meu jardim sobrevivente."

- Caio F. Abreu –

17 de jul. de 2011

"Paisagem de chuva"

Toda a noite, e pelas horas fora, o chiar da chuva baixou. Toda a noite, comigo entredesperto, a monotonia liquida me insistiu nos vidros. Ora um rasgo de vento, em ar mais alto, açoitava, e a água ondeava de som e passava mãos rápidas pela vidraça; ora com som surdo só fazia sono no exterior morto. A minha alma era a mesma de sempre, entre lençois como entre gente, dolorosamente consciente do mundo. Tardava o dia como a felicidade - áquela hora parecia que também indefinidamente.
Se o dia e a felicidade nunca viessem! Se esperar, ao menos, pudesse nem sequer ter a desilusão de conseguir.
O som casual de um carro tardo, áspero a saltar nas pedras, crescia do fundo da rua, estralejou por debaixo da vidraça, apagava-se para o fundo da rua, para o fundo do vago sono que eu não conseguia de todo. Batia. de quando em quando, uma porta de escada. Ás vezes havia um chapinhar liquido de passos, um roçar por si mesmos de vestes molhadas. Uma ou outra vez, quando os passos eram mais, soava alto e atacavam.
Depois, o silêncio volvia, com os passos que se apagavam, e a chuva continuava, inumeravelmente.
Nas paredes escuramente visiveis do meu quarto, se eu abria os olhos do sono falso, boiavam fragmentos de sonhos por fazer, vagas luzes, riscos pretos, coisas de nada que trepavam e desciam. Os móveis, maiores do que de dia, manchavam vagamente o absurdo da treva. A porta era indicada por qualquer coisa nem mais branca, nem mais preta do que a noite, mas diferente. Quanto á janela, eu só a ouvia.
Nova, fluida, incerta, a chuva soava. Os momentos tardavam ao som dela. A solidão da minha alma alargava-se, alastrava, invadia o que eu sentia, o que eu queria, o que ia sonhar. Os objectos vagos, participantes, na sombra, da minha insónia, passam a ter lugar e dor na minha desolação.


Bernardo Soares
in: O livro do desassossego.

Caio Fernando Abreu

Faz frio hoje.O inverno está chegando.
Estranho, o inverno sempre me deixa um pouco mais profundo.Me volto para dentro de mim mesmo,tenho a impressão exata de que me pareço com um dos plátanos da praça aí de baixo:hirto, seco, mas guardando alguma coisa por dentro.
Quem sabe se essa tristeza que tenho,
tão parecida com esse frio envergonhado de não ser frio — quem sabe,
se não é apenas o derrubar das folhas?

Caio Fernando Abreu
(excerto)

10 de jun. de 2011

Caio Fernando Abreu



"Diga o que você quiser, faça o que você quiser. Não diga nada se achar melhor. Minta, não será pecado. Mas se contar tudo, não esqueça de dizer que sou feliz aqui"

(Caio Fernando Abreu, de Onde Andará Dulce Veiga)

4 de mai. de 2011

Caio Fernando Abreu


"O pó se acumula todos os dias sobre as emoções.
São inúteis os panos, vassouras, espanadores."

(Caio Fernando Abreu in: Triângulo das Águas)

6 de abr. de 2011

Caio Fernando Abreu


(...)"Tomara que a gente não desista de ser quem é por nada nem ninguém deste mundo. Que a gente reconheça o poder do outro sem esquecer do nosso. Que as mentiras alheias não confundam as nossas verdades, mesmo que as mentiras e as verdades sejam impermanentes. Que friagem nenhuma seja capaz de encabular o nosso calor mais bonito. Que, me......smo quando estivermos doendo, não percamos de vista nem de sonho a idéia da alegria. Tomara que apesar dos apesares todos, a gente continue tendo valentia suficiente para não abrir mão de se sentir feliz.(...)

Caio Fernando Abreu

7 de mar. de 2011

de Caio Fernando Abreu


"(...) eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, (...)"


"(...) esse velho não vai mais incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca?(...)"

Para uma avenca partindo -
de 'O ovo apunhalado'

26 de fev. de 2011

Caio Fernando Abreu


"Eu me sinto às vezes tão frágil,
queria me debruçar em alguém, em alguma coisa.
Alguma segurança.
Invento estorinhas para mim mesmo, o tempo todo,
me conformo, me dou força.
Mas a sensação de estar sozinho não me larga.
Algumas paranóias, mas nada de grave.
O que incomoda é esta fragilidade, essa aceitação,
esse contentar-se com quase nada.
Estou todo sensível, as coisas me comovem..."

Caio Fernando Abreu